“Bendirei o Senhor o tempo
todo! Os meus lábios sempre o louvarão”(Salmo 34.1).
O
tempo é algo precioso. O tempo é caro, dizem até que “tempo é dinheiro”. Logo,
desperdiçar o tempo não é uma coisa saudável, nem para as finanças, nem para a
vida social e muito menos para a vida espiritual.
O cristão é chamado a perceber e a viver a dimensão do tempo numa
realidade cujo sentido deve ser mais pleno de significado, mais do que o
simples suceder das horas e dos dias. O que deve marcar o ritmo do tempo para o cristão é o seu
encontro pessoal com Deus, Senhor do tempo e da eternidade.
Já
na mitologia grega o relacionamento com o tempo era problemático. Os gregos
entendiam o tempo como uma divindade desapiedada e voraz. Um verdadeiro
devorador de vidas, implacável e insaciável que não perdoava nunca. Todos eram
tragados pelo deus Cronos que não fazia distinção entre outras divindades,
homens ricos ou escravos, filósofos ou ignorantes. A tudo consumia no ritmo
sucessivo dos dias, meses e anos. Todavia, quando olhamos para a cultura e a
sociedade contemporâneas não é difícil perceber que o deus Cronos continua
sendo idolatrado, e o que é o pior, continua devorando vidas.
A
frenética correria dos nossos dias nos impede de perceber e mesmo de viver a
vida com inteireza. Nunca temos a sensação de estarmos plenamente presentes em
lugar algum. Há sempre um compromisso, um encontro, uma atividade, uma
ansiedade em “stand by”, há sempre uma preocupação para daqui a pouco. Sem
falar nas muitas metas que nos impomos ou que pesam sobre os nossos
ombros. Coisas que devemos alcançar para, inclusive, justificar a nossa
existência.
Outros
estão escravizados pelo deus Cronos, acorrentados a ele por meio da depressão.
Em muitos casos, a depressão é uma forma de aprisionamento ao passado, às
coisas que já se foram, não existem mais, mas que ainda assombram o nosso
viver. Muitas depressões são o resultado da falta de superação, integração e
mesmo reconciliação com a história já vivida. O hoje nunca supera o ontem em
importância. E o futuro ainda não é.
A
ansiedade é outra enfermidade comum em nossos dias, é uma forma de
sequestro. Somos feitos reféns do futuro, com medo do que ainda será. Não
conseguimos viver bem o hoje com medo que ele antecipe o futuro que gera muitas
inseguranças e incertezas dentro de nós. Na ansiedade o passado não pesa, o
hoje é muito frágil e o futuro é sempre assustador.
Para
nós cristãos, a encarnação do Verbo, a vinda do eterno no tempo com o
nascimento de Jesus, que veio até nós justamente na “plenitude dos tempos” (Gl
4.4), e sua ressurreição dos mortos trouxe-nos a solução para como lidar com
tempo, dominá-lo, servirmo-nos dele e utilizá-lo para o nosso bem estar. O
cristão deve viver o seu dia, as horas que o compõem, em três dimensões:
1.
DIMENSÃO MEMORIAL: recordando, agradecidos, os grandes feitos de Deus. Valorizar em justa medida
as providências, os livramentos, as correções e disciplinas do Senhor e ainda,
assumindo com amor a nossa própria verdade de sermos limitados, débeis,
imperfeitos, pecadores. Isto nos livra da tirania do perfeccionismo, da
autogratificação e também da autopunição.
2. DIMENSÃO “KAIROLÓGICA”. Isto é, fazer do
presente, do "agora", do "já" de nossas vidas, um momento
repleto de graça. Agora é hora, o tempo favorável da graça e da bênção.
Por isso, devemos viver o presente como aquilo que ele é, presente, dádiva,
dom. E só o valorizamos, quando em oração, pedindo bênção, direção,
discernimento e força a Deus, passamos a viver o nosso dia, organizado todo na
perspectiva da redenção em Cristo. Passamos então a gozá-lo por inteiro,
inteiramente concentrados e focados em viver bem cada passo do dia, saboreando
cada ocasião temperada com a presença do Espírito do Senhor e sua
Palavra. O "agora" de nossas vidas é sempre libertador.
Livra-nos dos grilhões do passado na mesma medida em que nos salva do sequestro
do futuro.
3. DIMENSÃO “ESCATOLÓGICA”. Significa que vivemos a
certeza de que, haja o que houver no meu amanhã, desde agora, “sou mais que vencedor em Cristo.” A
vitória já foi alcançada na cruz e na ressurreição. A morte já não tem a última
palavra sobre a existência. Por isso podemos e devemos orar pedindo a Deus este
senso, esta forte impressão espiritual de que o futuro já chega até nós sob a
marca da cruz gloriosa e dos bens nela conquistados por Cristo.
E
como viver e integrar estas dimensões de maneira concreta em nossa experiência
diária?
Pela
santificação do tempo, pela organização de nossa agenda diária por meio da
oração, da meditação, da contemplação. Para que o tempo tenha sentido
salvífico e santificante, precisamos aprender na escola da oração que o “ser”
precede o “fazer”.
Luiz
Fernando dos Santos – Ultimato
Por
Litrazini
Graça
e Paz
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