Esperar
em Deus é sair dos nossos esconderijos para encarar a vida de peito aberto, com
suas alegrias e tristezas, na certeza de que cada detalhe ocorre diante do
olhar amoroso de um Deus que nos quer bem
Vivemos
numa época marcada por numerosas fontes de estresse. A violência, o desemprego,
a corrupção, a crise do relacionamento homem/mulher são alguns dos fatores que
geram muita insegurança. Somos alimentados por uma avalanche de notícias ruins,
dramas acontecendo ao redor do mundo, guerras, terremotos, tsunamis etc… que
aumentam ainda mais o nosso desânimo.
Temos
medo dos nossos sentimentos, medo de outras pessoas, medo de perder o que temos
e medo do desconhecido. Pessoas com medo tendem a construir mecanismos de
defesa, armas e carapaças para se proteger dos perigos.
Algumas
se tornam irritáveis a ponto de qualquer transtorno desencadear explosões
desproporcionais, mostrando que a panela de pressão já ultrapassou o seu
limite. Foi o que aconteceu com o motorista que matou o homem que o interpelara
no trânsito por causa de uma fechada.
Outras
pessoas ficam paralisadas diante da mínima ameaça e vão limitando seu espaço
interior e exterior para evitar situações conflitivas. Vivem trancadas
emocionalmente e privam-se, desta forma, do que é a essência do ser humano:
amar e ser amado. A maior parte busca esquemas de fuga no ativismo, no
trabalho, nas compulsões por bebida, comida, remédios ou outros vícios, e no
consumismo, para citar apenas alguns.
Pessoas
movidas pelo medo estão mais propensas a se comportar de maneira agressiva.
Qualquer sensação de ameaça gera reações impulsivas que não passaram pelo crivo
da razão. Ficamos na defensiva, desconfiados, preocupados apenas em nos
proteger, em preservar e acumular bens para nos garantir. Custamos a admitir
que não temos controle sobre o nosso futuro. Não escolhemos nascer nem
decidimos a hora da nossa morte, a menos que desistamos de viver.
Quando
finalmente admitimos a nossa própria impotência e reconhecemos as nossas
limitações, podemos então nos voltar para o Criador de todas as coisas que
sustenta o universo e nos afirma que não cai um só fio dos nossos cabelos sem o
seu consentimento.
Esperar
em Deus é confiar na sua promessa de estar conosco sempre. Esta espera não é
uma atitude passiva, acomodada ou resignada. Pelo contrário, trata-se de uma
parceria que nos leva a fazer o melhor para usufruir, multiplicar e
compartilhar os recursos que Ele nos confiou. Significa viver ativamente o
presente e investir nele, sabendo que o mal já foi vencido na cruz e, por isto,
não prevalecerá.
Esperar
é confiar na perspectiva de Deus que é mais ampla que nossos desejos finitos e
parciais. Abrir mão de nossa visão estreita e de nossas expectativas limitadas
permite deixar-se surpreender pelas soluções extraordinárias de Deus. Pegar a
sua cruz é aceitar a vida, abrindo-se a todas as possibilidades. É desistir de
tentar exercer um controle ilusório sobre o nosso futuro e abrir-nos ao novo na
convicção de que Deus, como diz Henri Nouwen, nos trata de acordo com o seu
amor e não de acordo com o nosso próprio medo.
Assim,
podemos ter a coragem de afirmar, como Dietrich Bonhoeffer na prisão, que Deus
é um Deus de amor mesmo quando à nossa volta vemos apenas rancor. Podemos
proclamar que a vida suplanta a morte como a luz invade a escuridão enquanto a
escuridão não consegue se impor onde há luz. Quando descobrimos que nada pode
nos separar do amor de Deus, encaramos o medo de perder o que já temos e o medo
do desconhecido e os transformamos em coragem de acolher com fé o futuro,
sabendo que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”. E,
parafraseando a música famosa, afirmo: “Quem sabe tem esperança, por isso faz a
hora, não espera acontecer”.
Esperar
em Deus é sair dos nossos esconderijos para encarar a vida de peito aberto, com
suas alegrias e tristezas, na certeza de que cada detalhe ocorre diante do
olhar amoroso de um Deus que nos quer bem. Assim, em vez de fugir ou
refugiarnos numa atitude egoísta, podemos nos tornar agentes de transformação e
sinais de esperança, como pontuou tão bem Agostinho: “A esperança tem duas
filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar
as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”.
Fonte:
Enfoque / Guia-me
Por
Litrazini
Graça
e Paz
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