Há
aspectos da vida que são como andar de bicicleta. Primeiro porque só se aprende
tentando. Por mais que sejamos preparados para algumas situações, apenas quando
as estamos vivendo é que descobrimos o que fazer e percebemos que assim como no
caso das leis da física, responsáveis por manter em movimento a bicicleta,
também há leis que regem cada situação de nossa vida e essas leis estão dentro
de nós.
Algumas
pessoas têm contato com os livros, outras não, algumas aprendem na escola os
cálculos que elegantemente provam sua existência, outras não, mas tais leis
estão dentro de todos, apenas esperando que sejam testadas na prática.
Ninguém
está pronto para andar de bicicleta, não importa o quanto domine a teoria, até
que suba nela e dê as primeiras pedaladas. Quem esperar resolver todas as suas
questões para começar ou recomeçar, não vai fazer nunca.
A
vida se compara a andar de bicicleta, também porque geralmente não vemos uma
criança interessada, desistir quando toma os primeiros tombos. Por mais
machucada que fique, ela mal vê a hora de subir novamente na magrela e seguir a
aventura do equilíbrio. A dor não a impede de continuar, porque assim que ela
passa nós não temos mais a memória da dor, só do tombo, memória não sente a
dor, é cicatriz, e por isso pode ser reprogramada.
Temos
a capacidade de extrair algo de bom de cada tombo, chegando a transformar o que
doeu numa história engraçada. Deveria ser assim em quase tudo de nossa vida,
decepções e frustrações deveriam ser tratadas assim, doem na hora, mas não
devem nos impedir de subir na vida e tentar novamente.
E
quanto mais pedalamos, maior autonomia ganhamos. A prática associada ao tempo é
implacável, tudo aquilo que fazemos com frequência se torna parte de nós
mesmos. Bem no início, muitos precisam das rodinhas de apoio para manter a
bicicleta fixa no ângulo correto, mas logo ela são dispensadas. Chega uma hora
que nos sentimos seguros para tirar as mãos do guidão e começamos a fazer as
primeiras estripulias, isso porque não nos basta dominar as técnicas do
equilíbrio e da velocidade, queremos mesmo é nos divertir. O próximo passo é
empinar a roda dianteira e alguns mais ousados passam a surfar, com um pé no
guidão e outro no selim, descendo ladeiras íngremes. É assim, não se pode
querer surfar na primeira vez, mas um dia nos sentiremos seguros para ir além
dos limites.
Um
problema é querer começar por onde se termina. Outro, é acreditar mais na
autonomia da prática que nas leis que regem a experiência, é a arrogância que
precede a queda.
Por
fim, não há idade para aprender a andar de bicicleta, é necessário apenas
vontade. Toda pessoa que resolve começar, se faz criança novamente, rejuvenesce
a alma, nasce de novo. Nada mais proveitoso pra vida que começar algo novo,
mesmo depois de sentir-se velho.
O
que nos mantém vivos não é o que já aprendemos na vida, mas o que queremos
aprender hoje, amanhã cedo. Todo ser humano que ousa aprender é digno de viver.
Nada melhor que acordarmos um dia, talvez machucados pelas experiências já
vividas, sentindo as dores do último tombo, mas vivermos uma epifania:
“deixe-me ver, não sei andar de bicicleta, isso, vou aprender”.
Porque
viver é a arte de não desistir de pedalar apesar dos tombos, é a arte de nunca
considerar tarde demais para começar. As leis estão dentro de nós, também essa
teimosia deliciosa de acreditar que vale a pena, de novo, com a fome de criança
que cai, chora, levanta e sai pedalando enquanto arranca as casquinhas do que
se tornarão suas mais orgulhosas cicatrizes.
Autoria:
Alexandre Robles
Por
Litrazini
Graça
e Paz
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