"Alegrem-se sempre no Senhor; outra vez digo: alegrem-se!" [Filipenses 4.4]

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

CUIDADO COM O QUE VOCÊ PEDE


Outro dia ouvi um fiel e puritano seguidor do Nazareno fazer o seguinte pedido: “Ah, eu gostaria de ter a fé de Abraão!”. Feito o pedido fechou os olhos, sorriu sinceramente e suspirou. Toda a dramaticidade das palavras e expressões comunicavam piedade e um desejo sincero por um tipo de fé invencível, heróica e inabalável. Lindo. E preocupante.

A cena que vi não é incomum, muito menos rara. Milhões de cristãos sonham com as vitórias, as conquistas e os milagres contidos nas narrativas bíblicas. Tudo normal e dentro do script para os ideais daqueles que creem. O problema é que histórias inspiradoras são exatamente isso: inspiradoras. Querer repetir o sobrenatural pode vir a ser frustrante.

Exemplos? Vamos lá. Quantas vezes o mar vermelho e o Rio Jordão se abriram? Quantas vezes um carro de fogo e um redemoinho sugaram um profeta? Quantas vezes o sol parou? Quantas vezes uma família construiu uma arca? Quantas vezes um homem de Deus foi transladado? Quantas vezes um homem andou sobre as águas?

E qual o problema em querer ter uma fé como a de Abraão? Nenhum. Ou todos! Para ser coerente com tal pedido, preciso ser coerente com toda a vida do patriarca. Portanto preciso aceitar todo o pacote, senão serei semelhante aos milhões que amam o Jesus Salvador e odeiam o Jesus Senhor, numa escolha que define que o Jesus que salva é bom, enquanto o que ordena mandamentos não é tão bom assim. Percebe a fragilidade de relações pela metade?

Então, ok, pedido atendido, aqui está a fé de Abraão. Mas não se esqueça de todo o pacote: saia da tua parentela, vá para uma terra sem qualquer preparo, apenas confie que farei de ti uma grande nação, te deixarei anos sem que sua esposa possa te dar filho, depois te darei milagrosamente um filho, depois mandarei que você mate este filho e, bem, em vida, você não verá todas as promessas que lhe foram prometidas. E aí, topa? Não sei você, mas acho firmemente que eu vacilaria.

E note, para chegar-se a conclusão que Abraão é o nosso pai na fé, primeiro ele teve que passar por cada prova. Enfim, se deixar levar pela empolgação e fazer pedidos e promessas sem qualquer ponderação, via de regra, é caminho certo para grandes micos. Vide exemplo o grande Pedro: “De forma alguma te negarei ou te abandonarei, Senhor...” Aham!

A fé precisa amadurecer e se assentar em nosso coração. Pode ser pequena, simples, limitada, sem problemas. O que se exige é que a fé, independente de seu tamanho ou força, seja pura. Pura como a minúscula semente do grão de mostarda. Aí, na perspectiva desta pureza podemos e devemos nos inspirar com os fatos bíblicos e, com fé, nos abandonarmos nas mãos de Deus para vivermos nossas particulares histórias.

Edmilson Ferreira Mendes 

Por Litrazini
Graça e Paz

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