Na
sua epístola aos Gálatas, o apóstolo Paulo diz que a igreja de Cristo recebeu o
Espírito (3.2), nasceu segundo o Espírito (4.29), anda no Espírito (5.16), é
guiada pelo Espírito (5.18), produz o fruto do Espírito (5.22,23), e vive no
Espírito (5.25). Mas, ainda não está no céu.
Há
ainda a terrível possibilidade de quedas e fracassos. Estamos sujeitos a
fraquezas e quedas. É nesse contexto que a igreja precisa se firmar como uma
comunidade terapêutica. Paulo escreve: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois
espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas
também tentado” (Gl 6.1). À luz deste versículo, destacaremos três
pontos importantes:
EM PRIMEIRO
LUGAR, O PERIGO DE UMA QUEDA REPENTINA (6.1a).
“Irmãos, se alguém for
surpreendido nalguma falta…”. O termo surpreendido indica que não se trata
de um caso de desobediência deliberada. Não houve um propósito maldoso antes da
ação. A palavra “falta” significa, literalmente, “pisar fora do caminho” ou
“dar um passo em falso”.
Por
que Paulo levanta esse caso hipotético? Porque nada revela de maneira mais
clara a perversidade do legalismo do que a maneira como os legalistas tratam
aqueles que pecaram. Paulo está alertando, também, que o pecado é um laço, uma
armadilha colocada em nosso caminho, que pode nos surpreender. A expressão “se
alguém” inclui a todos, sem exceção. Há terrenos escorregadios diante dos
nossos pés. Não podemos andar despercebidamente.
EM SEGUNDO
LUGAR, A NECESSIDADE DE UM CONFRONTO AMOROSO (6.1b).
“… vós, que sois
espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas
também tentado”. Muitos
lançam mão dos erros dos irmãos, usando-os como ocasião para insultá-los e
atingi-los com linguagem rude e censuradora.
Paulo
diz que os crentes espirituais, ou seja, aqueles que andam no Espírito e são
guiados pelo Espírito é que devem tomar a iniciativa de cuidar daqueles que são
surpreendidos pelo pecado. Paulo está mais preocupado com aqueles que vão lidar
com o caído do que com a própria pessoa que resvalou os pés.
Lidar
com disciplina na igreja sem total dependência do Espírito pode produzir mais
doença do que cura. Os exortadores podem tornar o caso pior do que foi
propriamente a falta. A única maneira de levantar aqueles que caíram em pecado
é a confrontação amorosa. Paulo diz: “… corrigi-o”. O termo grego katartizo
significa “por em ordem” e “restaurar à condição anterior”. No vocabulário
médico esse temo referia-se ao ato de encanar um osso fraturado ou deslocado.
O
crente que caiu em pecado é como um osso fraturado no corpo que precisa ser
restaurado. Obviamente, essa palavra aponta, também, para a motivação daquele
que corrige. Seu intento não é tripudiar sobre o faltoso, mas ajudá-lo a
colocar-se de pé.
O
confronto precisa ser com “espírito de brandura”. A dureza, a insensibilidade e
a hipocrisia não podem estar presentes no processo da confrontação. Precisamos
ter a ternura de Cristo e a doçura do Espírito de Deus, a fim de que a pessoa
ferida pelo pecado seja curada e restaurada.
A
igreja não é uma comunidade geradora de traumas e doenças, mas um lugar de cura
e restauração. Não somos um exército que executa seus soldados feridos, mas uma
clínica que cuida com amor daqueles que foram surpreendidos e caíram nas malhas
insidiosas do pecado.
EM TERCEIRO
LUGAR, UM ALERTA SOBRE O CUIDADO PREVENTIVO (6.1c). “… e guarda-te para que não sejas também
tentado”. A confrontação precisa ser feita com cautela e humildade. Não é
sem razão que o apóstolo muda do plural para o singular. Ele dá vigor à sua
exortação, quando se dirige individualmente a cada crente, instando a que cuide
de si mesmo.
Quem
corrige não pode jactar-se, julgando-se melhor do que o indivíduo corrigido.
Todos temos a mesma estrutura: somos pó. Se nos apartarmos um minuto sequer da
graça de Deus, poderemos também tropeçar e cair. Somos todos vulneráveis e
dependentes da misericórdia de Deus. Portanto, precisamos vigiar para não
condenarmos nos outros aquilo que nós mesmos praticamos, ou para não cairmos em
práticas semelhantes àquelas que reprovamos na vida dos nossos irmãos. Por mais
perspicazes que sejamos em detectar os erros alheios, muitas vezes, não
conseguimos ver a mochila pendurada às nossas costas.
Hernandes
Dias Lopes
Por
Litrazini
Graça e
Paz
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